sexta-feira, 20 de maio de 2016

AFINAL, QUE PAPEL NÓS EDUCADORES ESTAMOS DESEMPENHANDO?

Nas últimas semanas, em alguns Estados brasileiros, alunos de escolas públicas vem ocupando estes estabelecimentos exigindo direitos básicos a que deveriam ter acesso e que lhes são garantidos pela Constituição Federal de 1988, porém, vinte e oito anos depois de sua promulgação, ainda não atende os estudantes como deveria. Esses direitos variam da totalidade da gratuidade do ensino público, da oferta obrigatória e gratuita de alimentação de qualidade, material didático-escolar, transporte, atendimento a saúde e principalmente a qualidade padrão da educação pública. Fora suas reivindicações próprias, ainda reclamam o parcelamento de salários de professores e o não cumprimento da lei do piso salarial para o magistério, onde os docentes ainda recebem abaixo do que foi estabelecido pelo Governo Federal.
Mesmo sabendo da legitimidade das reivindicações dos alunos, que incluem algo que deveria ser reclamado pelo magistério em conjunto, muitas escolas vem reprimindo as manifestações, ameaçando tirar notas, deixá-los infrequentes, marcando provas em meio a um momento delicado como este e até, em alguns casos, chamando a polícia para retirá-los a força dos prédios (sendo que a escola deveria ser a segunda casa do estudante), como já ocorreu em algumas ocasiões. Sobre isso, escrevi recentemente em redes sociais sobre o papel da polícia nessas situações. Acredito que no momento em que a Polícia Militar refletir a quem estão servindo de fato, pararão de retirar estudantes que ocupam escolas públicas e passarão a se juntar a eles, defendendo o direito que eles têm de estarem lá, ajudando inclusive a manter a ordem e inspirando estes jovens. E isso também serve para os professores que, invés de se juntarem a seus estudantes nessas reivindicações totalmente legais e legítimas, preferem reprimi-los ou deixá-los a mercê de sua própria sorte ou consciência para depois ainda julgá-los por algo errado que eventualmente um ou outro, por falta de uma consciência que a família e nós professores deveríamos trabalhar com eles desde a infância ou por falta de maturidade, faça algo errado.
A nível nacional, vivemos um momento delicado de crise política, moral e econômica. Muitas das mudanças que seriam necessárias para nosso país e para nossa sociedade deveriam partir da população e da luta popular pelo fim de questões como a corrupção, a favor da realização de plebiscitos e da realização de políticas que favoreceriam a maioria. Porém, manifestações, protestos e qualquer tipo de rebeldia perante o sistema totalmente deflagrado em que vivemos são mal vistos pela população e taxados de comunistas (mesmo havendo liberalistas entre os revoltosos), subversivos, vagabundos e outros termos pejorativos. Essa cultura da revolta ser algo ruim ainda é herança da Ditadura Civil/Militar ocorrida entre 1964 e 1989, onde qualquer pessoa que discordasse do sistema da época, não importando a ideologia política, ou os membros de movimentos revolucionários eram violentamente reprimidos, torturados e mortos pelo exército.
Gerações anteriores as dos anos 1990 foram totalmente reprimidas por pais, governo e professores (pois, afinal somos formadores de opinião), perdendo justamente aquilo que estes jovens querem nos ensinar nesse momento. Quando reprimimos nossos alunos, estamos descumprindo um dos nossos deveres básicos como professores e que estão presentes nos currículos escolares: a formação de um ser humano crítico e capaz de exercer a cidadania em meio à sociedade onde vive. Não adianta somente querermos que aprendam história, física, matemática e as demais disciplinas de uma maneira que jamais esqueçam, pois, isso é impossível! O verdadeiro legado que o aluno leva consigo da escola para a vida é a lição de convivência social, de respeitar as diferenças, de respeitar as instituições que regulam a sociedade e, principalmente, o que foi citado anteriormente: a capacidade de criticar o sistema e de ser um cidadão que saberá o momento e como agir para fazer a diferença na nossa sociedade! Isso nós, das gerações anteriores, perdemos lá atrás, o que deveria nos mover a protestar e saber que devemos lutar pelo que é certo e justo, pensando no bem comum. Agora, vendo o que nossos alunos estão fazendo e que muitos de nós não tem a coragem de fazer, queremos reprimi-los também como fomos no passado e como somos atualmente pelo governo que nos amedronta com ameaças para seguirmos trabalhando, invés de nos juntarmos e orientarmos eles, servindo de exemplos. Protestar é exercer a cidadania e a forma legal de mostrar seu senso crítico em relação a questões das quais discorda, o que é um direito de todo membro de uma organização social. É cobrar das autoridades públicas a execução da lei e dos deveres tal como deveria ser! Está previsto em lei a legalidade e legitimidade que dão direito ao cidadão de realizar essa atividade!
Estamos realmente exercendo o papel que nos foi dado e que juramos desempenhar ao nos tornarmos educadores?

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