Nas últimas
semanas, em alguns Estados brasileiros, alunos de escolas públicas vem ocupando estes estabelecimentos exigindo direitos básicos a que deveriam ter acesso e que lhes são garantidos pela Constituição Federal de 1988, porém, vinte e oito anos depois de sua promulgação, ainda não atende os estudantes como deveria. Esses direitos variam da totalidade da gratuidade do ensino público, da oferta obrigatória e gratuita de alimentação de qualidade, material didático-escolar, transporte, atendimento a saúde e principalmente a qualidade padrão da educação pública. Fora suas reivindicações próprias, ainda reclamam o parcelamento de salários de professores e o não cumprimento da lei do piso salarial para o magistério, onde os docentes ainda recebem abaixo do que foi estabelecido pelo Governo Federal.
Mesmo sabendo
da legitimidade das reivindicações dos alunos, que incluem algo que deveria ser
reclamado pelo magistério em conjunto, muitas escolas vem reprimindo as
manifestações, ameaçando tirar notas, deixá-los infrequentes, marcando provas
em meio a um momento delicado como este e até, em alguns casos, chamando a
polícia para retirá-los a força dos prédios (sendo que a escola deveria ser a segunda casa do estudante), como já ocorreu em algumas
ocasiões. Sobre isso, escrevi recentemente em redes sociais sobre o papel da
polícia nessas situações. Acredito que no momento em que a Polícia Militar
refletir a quem estão servindo de fato, pararão de retirar estudantes que
ocupam escolas públicas e passarão a se juntar a eles, defendendo o direito que
eles têm de estarem lá, ajudando inclusive a manter a ordem e inspirando estes
jovens. E isso também serve para os professores que, invés de se juntarem a
seus estudantes nessas reivindicações totalmente legais e legítimas, preferem reprimi-los
ou deixá-los a mercê de sua própria sorte ou consciência para depois ainda
julgá-los por algo errado que eventualmente um ou outro, por falta de uma
consciência que a família e nós professores deveríamos trabalhar com eles desde
a infância ou por falta de maturidade, faça algo errado.
A nível
nacional, vivemos um momento delicado de crise política, moral e econômica.
Muitas das mudanças que seriam necessárias para nosso país e para nossa sociedade deveriam partir da
população e da luta popular pelo fim de questões como a corrupção, a favor da realização de plebiscitos e da realização de políticas
que favoreceriam a maioria. Porém, manifestações, protestos e qualquer tipo de
rebeldia perante o sistema totalmente deflagrado em que vivemos são mal vistos
pela população e taxados de comunistas (mesmo havendo liberalistas entre os
revoltosos), subversivos, vagabundos e outros termos pejorativos. Essa
cultura da revolta ser algo ruim ainda é herança da Ditadura Civil/Militar
ocorrida entre 1964 e 1989, onde qualquer pessoa que discordasse do sistema da
época, não importando a ideologia política, ou os membros de movimentos
revolucionários eram violentamente reprimidos, torturados e mortos pelo
exército.
Gerações
anteriores as dos anos 1990 foram totalmente reprimidas por pais, governo e
professores (pois, afinal somos formadores de opinião), perdendo justamente
aquilo que estes jovens querem nos ensinar nesse momento. Quando reprimimos
nossos alunos, estamos descumprindo um dos nossos deveres básicos como
professores e que estão presentes nos currículos escolares: a formação de um
ser humano crítico e capaz de exercer a cidadania em meio à sociedade onde vive.
Não adianta somente querermos que aprendam história, física, matemática e as
demais disciplinas de uma maneira que jamais esqueçam, pois, isso é impossível!
O verdadeiro legado que o aluno leva consigo da escola para a vida é a lição de
convivência social, de respeitar as diferenças, de respeitar as instituições
que regulam a sociedade e, principalmente, o que foi citado anteriormente: a
capacidade de criticar o sistema e de ser um cidadão que saberá o momento e
como agir para fazer a diferença na nossa sociedade! Isso nós, das gerações
anteriores, perdemos lá atrás, o que deveria nos mover a protestar e saber que
devemos lutar pelo que é certo e justo, pensando no bem comum. Agora, vendo o
que nossos alunos estão fazendo e que muitos de nós não tem a coragem de fazer,
queremos reprimi-los também como fomos no passado e como somos atualmente pelo governo que nos amedronta com ameaças para seguirmos trabalhando, invés de nos juntarmos e orientarmos eles,
servindo de exemplos. Protestar é exercer a cidadania e a forma legal de mostrar seu senso crítico em relação a questões das quais discorda, o que é um direito de todo membro de uma organização social. É cobrar das autoridades públicas a execução da lei e dos deveres tal como deveria ser! Está previsto em lei a legalidade e legitimidade que dão direito ao cidadão de realizar essa atividade!
Estamos
realmente exercendo o papel que nos foi dado e que juramos desempenhar ao nos
tornarmos educadores?
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