segunda-feira, 14 de março de 2016

CONSIDERAÇÕES ACERCA DOS ACONTECIMENTOS POLÍTICOS RECENTES

As redes sociais andam ariscas ultimamente. Uma onda de interesse nas discussões políticas vem tomando o país nos últimos tempos e, no mundo virtual, todos tem direito a palavra. A principal causa vem sendo os casos de corrupção do sistema político brasileiro, existentes há 500 anos, mas que parece que somente agora começaram a afetar a população, principalmente os que claramente tem mais condições financeiras (inclusive internet em casa para se pronunciar).
A mídia, que antes era calada, fosse por apoiar os governos anteriores ou simplesmente por ser amordaçada, como nos tempos da Ditadura, contempla este cenário de discórdia que, em algumas pessoas, gera um ódio inigualável, capaz de cegá-las a ponto de apoiar pessoas como o deputado Jair Bolsonaro, do PSC (Partido Social Cristão) – antes do PP (Partido Progressista). Jair é conhecido mundialmente por ser anticomunista, antissemita, machista e homofóbico, títulos pelos quais ele se orgulha e não se dá ao trabalho de contestá-los nem na frente de renomados atores e autores de documentários nacionais e internacionais que vem ao nosso país para entrevistá-lo.
Outro motivo que vem acirrando esse basta que a população quer dar a corrupção são as recentes denúncias envolvendo o ex-presidente Lula e a prisão de todo o alto comando do PT (Partido dos Trabalhadores) do qual ele e a atual Presidente, Dilma Rousseff, fazem parte. As denúncias apresentadas não são nenhuma novidade na política brasileira. Envolvem compra de votos, financiamento de campanha com dinheiro de empresas privadas que posteriormente venciam as obras de licitação do Governo Federal, presentes dados por elas aos candidatos, como o caso do Triplex e o Sítio em Atibaia do Lula. Outros diversos políticos influentes também são denunciados pelas mesmas irregularidades, como o caso de Eduardo Cunha, do PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro), presidente da Câmara dos Deputados, e Aécio Neves do PSDB (Partido Social Democrático Brasileiro), ex-presidenciável e Senador. Isso não é novidade alguma, visto que 90% dos políticos no Brasil se elegem da mesma maneira: dinheiro de corrupção.
Todo esse rolo também se dá ao fato de que, de um lado, a Presidente Dilma acusa a Câmara e o Senado de não a deixarem governar, pois, depois das denúncias do Mensalão, outro esquema que existia a mais de décadas, a compra de votos ficou mais difícil, complicando para o governo de situação, problema que Lula não teve quando foi Presidente. O partido que tem a maioria na Câmara, no Senado, nos governos estaduais, nos governos municipais e nas vereanças é o PMDB, que também ocupa a vice-presidencia, na figura do Michel Temer, que deveriam ser aliados do governo, mas não são. Isso forçou o governo a tomar medidas impopulares, como o aumento de impostos e retenção de gastos públicos, o que era proposta do candidato da oposição, Aécio Neves, mais para manter seus privilégios e dos interessados em se beneficiar de dinheiro público do que da população. Como sabemos, qualquer partido que governar o Brasil hoje terá um governo com característica Neoliberal, porque a constituição vigente é Neoliberal. Um partido Socialista, portanto de esquerda, só conseguiria governar o país realizando uma reforma política, que certamente seria negada pelo parlamento, ou fazendo uma revolução popular. Para não se tornar reformista, o PT deixou de ser, o que remetia sua origem trotskysta dos anos 1980, socialista e passou a aceitar o neoliberalismo, tal como os outros, porém mais centrista e populista em alguns momentos, no entanto se lambusando nos esquemas existentes de compra de votos, financiamento de campanhas e lavagem de dinheiro. Como muitos líderes do Partido, em especial Olívio Dutra e Tarso Genro admitiram: o PT entrou na vala comum. Esse fato fez com que perdessem grande parte dos intelectuais de esquerda que compunham as fileiras do Partido e muitos dos seus seguidores e admiradores.
Não devemos ser contra nenhum tipo de manifestação, como as ocorridas no dia 13 de março de 2016. Todos têm e devem ter o direito de se manifestar, seja na rua, no facebook ou onde quer que seja. Somos livres (pelo menos enquanto políticos como Jair Bolsonaro não assumirem o poder). O que intelectuais, professores universitários e líderes da esquerda socialista brasileira criticam é a falta de politização da população brasileira (que estaria ligada diretamente a péssima qualidade do ensino fundamental e médio, tanto no setor público quanto no privado). A maioria das pessoas que estavam na rua não sabiam explicar o que significa direita ou esquerda, socialismo ou liberalismo, nem tampouco sabem analisar a economia do Brasil ou quais os reais problemas que fazem nosso sistema político ser e estar como é e como está. Diversos jornalistas saíram às ruas entrevistando as pessoas e isso foi o que se pôde ver. Sair para a rua protestar uma coisa que não sabe explicar é, além de inadimissível, também uma maneira de corrupção. Como foi dito anteriormente, o financiamento privado de campanhas com interesse econômico, financiamento da vida de políticos e beneficiamento de empresas no setor público não é novidade nenhuma para o sistema político brasileiro, mas a população parece que descobriu somente agora porque o assunto se tornou mídia nos últimos anos. Sabiam disso, os militares e a direita, quando redigiram a Constituição de 1988 (neoliberalista e uma das principais causadora de todo o problema discutido neste artigo, pois é ela que rege o sistema político e jurídico do país).
Segundo pesquisa feita pelo jornal Zero Hora (claramente de posicionamento a direita, que nunca negou isso e é natural, afinal é uma empresa privada) 73% dos protestantes não tinham desempregados na família, 76% votaram em Aécio Neves, 48% ganhava mais de 10 salários mínimos, 92% eram brancos (sendo que temos mais de 51% de afrodescendentes no Brasil) e outros dados que nem precisamos citar para embasar o que queríamos propor.
A principal crítica foi que vimos a maior parte dos manifestantes sendo parte da elite brasileira indo às ruas protestar contra o governo, ponto. Nesta elite sabemos que não se encontram a grande maioria da nossa população, juntando todas as capitais eram apenas entre 5 e 2 milhões de pessoas (os números variam entre os da polícia e o dos organizadores), sendo que temos 200 milhões de habitantes no Brasil, a maioria vivendo nas capitais. A maioria da população tem motivos de protestar, também, não só contra a Dilma, o Lula e o PT, mas contra todos os partidos e a corrupção que corroe esse sistema político sujo. Alguns ativistas afirmaram que, se os moradores das favelas, principais afetados por momentos de turbulência como o atual, descessem em peso para o protesto os demais participantes teriam ido para suas casas.
O brasileiro tem péssimos índices em relação a muitos países no que diz respeito, por exemplo, a leitura de livros, que não chega a meio livro por ano, enquanto países muito mais pobres tem uma média entre 5 e 10 livros ao ano. Outro índice preocupante e que tem direta relação com casos de corrupção é a lavagem de dinheiro e o imposto de renda. A grande maioria das pessoas não são honestas na hora de declarar renda, principalmente os mais abonados. Como ir a uma manifestação contra a corrupção caminhando ao lado de corruptos? É uma das perguntas mais levantadas por aqueles que realmente tem sede de mudança num país que vive uma democracia embrionária sem democracia e ainda ameaçada de morrer para o retorno de uma ditadura e com tantos outros problemas políticos que a população, por ignorância, não consegue ver ou entender.

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