sexta-feira, 24 de outubro de 2008

O Essencial na Vida

Sólon, ao chegar em Sardes, século VI a.C. , é recebido por Creso que oferece-lhe o melhor aposento de seu Palácio Real e mostra-lhe todo seu tesouro e suas riquezas. Após mostrar tudo à Sólon, perguntou-lhe quem era o homem mais feliz que já havia visto, sabendo de sua enorme sabedoria e várias viagens por inúmeros países, achando que sua resposta seria óbviamente o próprio Creso. Sólon respondeu-lhe, sem disfarçar a verdade: “É Telo, de Atenas”. Sem esperar esta resposta, Creso perguntou-lhe: “Por que julgas Telo tão feliz?”. Sólon responde: “Porque residindo numa cidade florescente, teve dois lindos e virtuosos filhos, cada um lhe deu netos que viveram muitos anos e depois de usufruir uma considerável fortuna em relação às do nosso país, terminou seus dias de maneira admirável: num combate protegendo seu povo, Atenienses contra seus vizinhos Eleusis. Pôs em fuga os inimigos e pereceu gloriosamente. Os Atenienses ergueram-lhe um monumento por subscrição pública no próprio local onde fora sua morte e lhe atribuíram grandes honras”. Decepcionado com a resposta, Creso voltou a perguntar então, quem depois desse ateniense, considarava o mais feliz dos homens, dessa vez não duvidando de maneira alguma que o segundo lugar lhe pertenceria. Sólon responde: “Cléobis e Biton, eram Árgios e desfrutavam rendas de pecúlio honesto. Eram, por outro lado, tão fortes que haviam ambos conquistado prêmios nos jogos públicos. Conta-se sobre eles o seguinte caso: Os Árgios celebravam uma festa em honra à Juno. A mãe desses dois jovens tinha absoluta necessidade de ir ao templo num carro onde os bois tardavam a chegar do campo. Os rapazes, vendo o tempo passar, puseram-se eles mesmos sob a canga, puxando o carro no qual ia a mãe, conduzindo assim, numa distância de 40 estádios, até o templo da Deusa. Depois dessa bela ação, terminaram seus dias de maneira ditosa, pretendendo a divindade, com isso, mostrar que é mais vantajoso para o homem morrer do que viver: Os Árgios, reunidos em torno dos dois jovens, louvaram-lhes o procedimento, enquanto as mulheres felicitavam a sacerdotisa por possuir tais filhos. No auge de sua alegria e elogios, de pé junto à estátua, pediu a deusa que concedesse a Cléobis e Biton a maior felicidade que pode alcançar um mortal. Terminada a prece, os rapazes adormeceram no próprio templo, pra nunca mais despertar. Os Árgios ergueram estátuas para ambps e consagraram a Delfos como homens perfeitos”. Creso já impaciente e um tanto triste replicou à Sólon: “Ateniense, fazes tão pouco caso da minha felicidade, por que me julgas indigno de ser comparado com homens comuns?”. Sólon responde então à Creso: “Perguntais o que penso da vida humana. Em viagens pelo mundo, vemos e sofremos muitas coisas desagradáveis. Dou a um homem 70 anos como o mais longo tempo de vida. Entre 70 anos, não encontrareis um que não traga um acontecimento semelhante a outros. Possuis certamente riquezas consideráveis e reinais sobre um grande povo, mas não posso responder a vossa pergunta sem saber se terminareis os vossos dias na abundancia. O homem por ser cumulado de riquezas não quer dizer que seja superior àquele que possui apenas o necessário, a menos que a boa sorte o acompanhe e que, gozando de todas essas espécies de bens, materiais, termine venturosamente sua existência. Nada mais comum do que a infelicidade na riqueza e a felicidade na pobreza. Um homem imensamente rico e feliz tem apenas duas vantagens sobre o apenas feliz: O Homem rico está mais em condições de satisfazer seus desejos e suportar grandes perdas, mas se o outro não pode resistir a essas perdas, nem contentar os desejos, sua felicidade o põe a coberto de umas e de outros. Alias, admitindo que ele esteja no uso de todos os seus membros, goze de boa saúde, não sofra nenhum desgosto e seja feliz com os filhos, se a todas essas vantagens acrecentardes a de uma morte gloriosa, aí tereis o homem que procurais. Ele sim merece a classificação de feliz. De que vale ter todas as riquezas do mundo se não tiveres felicidade, intelecto e uma vida gloriosa.” Após esta resposta, visto que não havia dito nada de agradável à Creso, foi logo despedido de seu palácio. Provavelmente tratou-se de um homem possuidor de um apedeutismo incomensurável que, sem dar importância ao que lhe fora falado, queria que tudo se encarasse sempre o fim. Segundo Herôdotos, depois da partida de Sólon, a vingança dos deuses caiu de maneira terrível em cima de Creso, em punição por julgar-se o mais feliz dos homens. Creso teve dois filhos, um surdo-mudo e o outro foi morto, ainda muito jovem, antes de seu casamento, em uma caçada à um Javali, quando fora atingido não-intencionalmente com uma lança de metal por seu protetor, Adrasto.



Fonte de Pesquisa: HERODOTO. História. Brasília: Ed. UNB, 1982.

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